sexta-feira, agosto 08, 2008

Ensaio sobre meus punhos brandos


hoje eu vim aqui coberto de poeira da estrada do parque das laranjeiras, com a tosse mais ofegante que de costume, com espirros mais fortes e mais violentos, com as mãos "tuíras", de muita poeira que os pneus levantavam, mas muita mesmo, que os meus olhos que já são debilitados, não puseram nenhuma paisagem diante daquele ar pesado, e da paisagem num tom marfim, que eu até gosto de observar, os carros empoeirados, todas as mãos dos passageiros sobre o nariz, os olhos, lacrimejantes, sob o alto sol que se apresentava, e com seus raios brilhantes invadiam os fragmentos brilhantes na poeira, as pessoas, as casas, os carros, os olhos, os pássaros, os insetos, todos um atras do outro, em fila indiana - manauara, os homens e a terra, adiantou de nada estar à diante, ainda com os homens de azul que cuidavam da terra, os punhos cansados, a respiração forte variava com as batidas forte e raivosas dos motores, nada podiam contra o vento, contra a força da poeira, aliada aos gritos incessantes de quem não estava com a paciência santa do espírito santo, a impaciência faz com que todos envolvidos nisso respirem mais forte, grandes quantidades de poeira, grandes quantidades de sol, de raiva, e eu me mantive quieto , tranquilo, escutando o Devendra Benhart - litle boys, quando eu percebi o celular descarregado e também empoeirado, não liguei procurei me manter calmo, em sigilo, pra que ninguém me descobrisse, pra que ninguém soubesse que eu estava ali, e eu consegui entre as tosses, os gritos , ah sim ainda tinha uma sinfonia de buzinas desencontradas, cada no timbre da raiva de seu dono, de seu motor..., mas eu continuei a pousar em cada passo da minha respiração, sinuante a cada saliência que o humor negro desta manhã me trouxe, os canos, o grandes tratores a ferir o chão, o sangue na agua suja do esgoto em repulso, o fedor... ah numa noite passada encontrei o Isaias um antigo amigo filho de Oxossi, que me olhou e disse: "engraçado, eu não vejo mais aquele demônio nos teus olhos, você parou de beber como bebia?, parou de fumar?" com um semblante calmo confirmei, sim com a cabeça, parei com o cigarro, ao menos to resistindo bravamente,a bebida eu queimei o endereço dos bares, só ela sabe, ele riu, to tentando, "mas eu sinto que este teu espírito ta quieto, e isso só acontece quando o cabra esta em paz ai dentro do motor" eu sorri uma gargalhada alta, e ele disse "num disse, até a sua gargalhada era como um grito de guerra, hoje ta diferente" eu o agradeci e segui o caminho pra casa tranquilo como tem sido estes tempos, ai vim pensando eu sou um elefante pesado e tranquilo, mas aliviando o peso, sem medo de estar com olhos fechados, é verdade, tenho tido momentos de muita poeira na minha alma mas as coisas estão ficando claras, foi preciso...foi preciso tempestades de areia... mas agora uma brisa fria e refrescante é o que corre, mesmo com aquela poeira toda de hoje pela manhã, as mãos apesar de um monte de cicatrizes, repousam calmamente uma sobre a outra, os cachos dos meus cabelos se desviam numa sinfonia que só eu exalava em meio à poeira... pensando na forte dor de cabeça de ontem, na falta de ar que me deu este mês, nas coisas erradas que fiz, na minha alma tranquila... apesar de umas coisas estranhas de saúde... tranquilo, sim tranquilo como um elefante... refazendo alguns percursos, de punhos brandos sem objetivo de acertar o alvo... só proteção, como casa de formiga de fogo, como uma árvore cheia de lagartas, os meus punhos não brigam mais só protegem, não há mais raiva neles... talvez um pouco de magoa de coisas antigas, mas raiva não agora é a hora de mante-los brandos....

Um comentário:

A678 disse...

Como sempre, tudo que escreve está impregnado de vida, falta saltar e andar por ai como alguém pensante... Lembra-me aquele que tu sabes o nome.